Os médicos das ERPI são chamados a tomar decisões com poucos recursos e num tempo limitado

A Associação dos Médicos dos Idosos Institucionalizados (AMIDI), criada no início de 2022, vai organizar as primeiras Jornadas no dia 28 de janeiro de 2023, em formato híbrido. André Rodrigues, presidente da Assembleia Geral, faz uma antevisão e alerta para as limitações do médico que trabalha nas ERPI.

Andre

Vai ser o primeiro evento da AMIDI. A quem se destina?

Destina-se a todos os profissionais que tenham interesse nesta área, independentemente de serem médicos ou não. A reunião vai decorrer em formato híbrido, de forma a aumentar a participação.

Qual o objetivo da AMIDI com esta iniciativa?

Com esta reunião, pretendemos dar a conhecer a missão e propósito da AMIDI, bem como apresentar os seus elementos. Por outro lado, preparámos um programa que vai ao encontro de algumas das necessidades mais frequentes nas instituições.

“Lamentavelmente, em Portugal não existe a especialidade de Geriatria, como acontece na maior parte dos países da Europa”

Relativamente às temáticas, e estando ligado às ERPI, quais as principais particularidades e desafios dos médicos destas instituições?

A grande maioria destes idosos têm multipatologia, estão polimedicados, têm problemas funcionais, cognitivos, psicológicos e nutricionais complexos. Por outro lado, os médicos  muitas vezes não dispõem do histórico clínico do idoso, nem dispõem de exames complementares de diagnóstico imediatos. Os médicos das ERPI são chamados a tomar decisões com poucos recursos e num tempo limitado. Desta forma, os desafios não são apenas clínicos mas também éticos, sociais, ou mesmo administrativos. Estes profissionais têm um papel muito mais importante do que a prescrição de medicamentos. Na minha opinião, um dos problemas principais relaciona-se com a falta de obrigatoriedade  de médico nas ERPI (regulamento definido pela Segurança Social na Portaria  67/2012, de 23 de março), que resulta numa discrepância muito grande a nível de presença de médico de instituição para instituição. Por outro lado, existe uma falta de formação em Geriatria em Portugal, que é essencial para uma correta avaliação desta população. Lamentavelmente, em Portugal não existe a especialidade de Geriatria, como acontece na maior parte dos países da Europa. A AMIDI pretende contribuir para a formação destes médicos.

“Atendendo ao facto de não haver nutricionistas na grande maioria das ERPI, a restante equipa multidisciplinar tem de ter conhecimentos básicos nesta área”

Vão ainda abordar a Nutrição, o delirium e as alterações dermatológicas. São as áreas mais preocupantes?

Dentro dos problemas clínicos mais prevalentes em Geriatria, estes são dos mais relevantes nas ERPI. A nutrição tem um enorme impacto na saúde e bem-estar, sendo um fator condicionante da qualidade de vida dos idosos. A prevalência de desnutrição nesta população atinge níveis muito elevados e por isso é um tema muito importante. Atendendo ao facto de não haver nutricionistas na grande maioria das ERPI, a restante equipa multidisciplinar tem de ter conhecimentos básicos nesta área. O delirium, também conhecido por estado confusional agudo, é uma perturbação grave da função mental, caracteriza-se por distúrbio da consciência associado a uma reduzida capacidade de concentração, confusão mental e alteração da perceção do ambiente. Os idosos institucionalizados têm na sua maioria comprometimento funcional e cognitivo, demência, multicomorbilidades e encontram-se polimedicados, fatores que justificam a elevada prevalência de delirium. Uma correta abordagem não farmacológica é essencial para a sua resolução. Por fim, o envelhecimento da pele associado a doenças crónicas, polimedicação, cuidados pessoais com a pele e hábitos de higiene em idosos aumentam a vulnerabilidade a doenças dermatológicas. Um bom diagnóstico é essencial para um tratamento eficaz, daí ser crucial apostar-se na formação.

No final vão contar com a presença da Humanitude, que tem como objetivo a humanização dos cuidados. O que ainda é preciso fazer para que os cuidados aos idosos sejam mais humanizados nas ERPI?

Em linhas gerais, a metodologia de cuidados Humanitude diz respeito a uma humanização dos cuidados prestados a pessoas em situação de dependência de cuidados, pautada por um conjunto de princípios e técnicas concretas e explícitas de aplicação prática. Dentro dos autores que criaram este conceito, destacamos o Dr. Yves Gineste, o qual aceitou o nosso desafio de partilhar a sua experiência na nossa reunião da AMIDI. Na nossa opinião, os profissionais que trabalham em ERPI têm de ter acesso a formação em Geriatria, e neste campo, a formação em cuidados e comunicação é fulcral.

Fonte: Saúde Online